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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Uma homenagem aos “adoráveis malditos” da música brasileira.

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O cantor e compositor Eduardo Rangel e o maestro Joaquim França, prestam um tributo aos cantores e compositores Torquato Neto e Sérgio Sampaio. Por meio de um show intitulado “ADORÁVEIS MALDITOS”, os mesmos homenageiam esses dois compositores da nossa MPB, os quais tiveram trajetórias trágicas e polêmicas, mas que nos deixaram uma obra extremamente rica e original.


Eduardo Rangel, cantor e compositor brasiliense é acompanhado pelo pianista e arranjador Joaquim França, que é amapaense, apresentam um passeio pelas obras desses dois “adoráveis malditos”. Dentre o repertório das músicas de Sérgio Sampaio, estão algumas como: Tem que acontecer, Meu Pobre Blues, Faixa Seis, Em Nome de Deus, além do conhecido sucesso “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”; e de Torquato Neto, estão algumas como: Mamãe Coragem, Louvação, Let’s Play That, Três da Madrugada e Pra Dizer Adeus, dentre outras. O referido show foi lançado em Brasília, nos dias 21 e 22 de agosto de 2008, no Café Cultural do Teatro da Caixa Econômica.


No referido espetáculo, os músicos apresentam ainda, algumas curiosidades sobre a vida dos homenageados, tais como a origem da música “Cajuína”, que Caetano Veloso compôs para o pai de Torquato, pouco depois do velório do poeta. Quem não lembra dela: “Existirmos, a que será que se destina /… Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina / do menino infeliz não se nos ilumina…”. E, o restante do poema de Torquato “Go Back”, que teve trecho musicado pelos ‘Titãs’: “Você me chama / Eu quero ir pro cinema / Você reclama …”, lembram!

Torquato Neto viveu apenas até os 28 anos, morreu em 10 de novembro de 1972, suas canções influenciaram músicos como: Gilberto Gil, Caetano, Jards Macalé, Luiz Melodia e Edu Lobo dentre outros, os quais já musicaram muitos de seus poemas. Sérgio Sampaio morreu em 15 de maio de 1994, aos 47 anos, sobre ele, Raul Seixas, seu grande amigo e parceiro no disco “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista”, comentava que perto de Sergio se sentia o mais careta das criaturas. Ainda hoje ambos continuam a influenciar diversos artistas da MPB, tendo sido gravados por Zizi Possi, João Bosco, Elba Ramalho, Gal Costa, Nana Caymmi, Eduardo Dusek e por muitos outros.

Sobre uma possível apresentação desse show em nosso Estado, conversações já existem com o produtor cultural Aroldo Pedrosa e o coordenador da Casa Brasil, para que em março de 2009, Eduardo Rangel e Joaquim França, possam estar nos brindando com esse espetáculo no palco externo da Casa Brasil Unidade Santana. A idéia segundo os dois, é fazer um grande show de homenagem ao Movimento Tropicalista, o qual Aroldo e tantos outros músicos amapaenses já têm todinho montado. Vamos unir num palco só, os amapaenses amantes do tropicalismo e os dois “adoráveis malditos” por meio de Rangel e Joaquim, disse Aroldo. É só esperar para conferir.

Mas, quem foi esses dois compositores a quem os dois músicos chamam de “adoráveis malditos”? Conheçam um pouco mais dos dois num resumo de suas biografias abaixo:

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Torquato Neto, nasceu em Teresina, Piauí, em 09 de novembro de 1944, filho de um promotor público e de uma professora primária, estudou em Salvador, no mesmo colégio de Gilberto Gil, de quem se aproximou aos 17 anos nas rodas artísticas de Salvador, onde conheceu também os irmãos Caetano Veloso e Maria Bethânia. Mais tarde, em 1962, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde fez alguns anos de faculdade de jornalismo, sem se formar.


No entanto, exerceu a profissão de jornalista em diversos periódicos, como o Correio da Manhã (no suplemento Plug), O Sol (suplemento do Jornal dos Sports) e Última Hora, onde nos anos de 1971 e 72 escreveu sua badalada coluna Geléia Geral, em que defendia as manifestações artísticas de vanguarda na música, artes plásticas, cinema, poesia etc. Fundou também jornais alternativos, o Presença e o Navilouca, que só teve um número mas fez história.

Em 1968, com o AI-5 e o exílio dos amigos e parceiros Gil e Caetano (além de outros emigrados), viajou pela Europa e Estados Unidos com a mulher Ana Maria, morando algum tempo em Londres. De volta ao Brasil, no início dos anos 70, ligou-se à poesia marginal e aos ícones do cinema marginal, Julio Bressane, Rogério Sganzerla e Ivan Cardoso. Também era amigo dos poetas concretistas, Décio Pignatari, os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, e do artista plástico Hélio Oiticica. É considerado um dos vértices do movimento tropicalista, ao lado de Gil, Caetano e Capinam.

Entre suas parcerias mais famosas estão Louvação (com Gil), Pra Dizer Adeus e Lua Nova (com Edu Lobo), Let’s Play That (com Jards Macalé), Geléia Geral (com Gil), Mamãe Coragem (com Caetano). Participou da famosa foto da capa do disco Tropicália ou Panis Et Circensis, em que estão incluídos suas músicas Mamãe Coragem e Geléia Geral. Seu suicídio, um dia depois de seu 28º aniversário, provocou espanto. Torquato voltou de uma festa com a mulher — que foi dormir —, trancou-se no banheiro e ligou o gás, sendo encontrado morto no dia seguinte pela empregada.



Deixou um bilhete de despedida que dizia: “Tenho saudade, como os cariocas, do dia em que sentia e achava que era dia de cego. De modo que fico sossegado por aqui mesmo, enquanto durar. Pra mim, chega! Não sacudam demais o Thiago, que ele pode acordar”. Thiago era o filho de três anos de idade. Artigos da coluna Geléia Geral e poesias inéditas foram reunidos no livro “Os Últimos Dias de Paupéria”, organizado por Waly Salomão e a viúva Ana Maria em 1973. Além disso, o cineasta Ivan Cardoso produziu o documentário Torquato Neto, o Anjo Torto da Tropicália. Os Titãs musicaram seu poema Go Back, que deu nome ao disco da banda de 1988 (Biografia TorquatoNeto/cliquemusic).



Sergio Sampaio, capixaba, era filho de um fabricante de tamanco e maestro com uma dona de casa, nasceu em 13 de abril de 1947, em Cachoeiro do Itapemirim (Espírito Santos). Cresceu cercado de partituras e instrumentos musicais. Dono de uma bela voz, logo começou a trabalhar como locutor nas rádios locais e descobriu seus primeiros ídolos, Orlando Silva, Nélson Gonçalves e Sílvio Caldas. Seu destino era o Rio de Janeiro, onde trabalhou de dia como radialista e à noite como cantor de bar. A boemia corria solta e ele não pensava duas vezes para trocar um compromisso de trabalho por uma noitada.

Sampaio viveu momentos dramáticos. De acordo com a biografia do cantor intitulada Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, de Rodrigo Moreira, passou a dividir quartos de pensão com bandidos e toda sorte de malandros. Dormiu na rua, perambulou por bares em busca de comida e bebida. “Nessas condições você torce para que haja um velório na casa de um conhecido só para ter um lugar onde passar a noite”, palavras do próprio Sérgio Sampaio. Quem o salvou da lama foi um produtor da gravadora CBS, o Raul Seixas.


Raul Seixas adorou as composições de Sampaio e o levou para morar em sua casa, além de apoiar a gravação do primeiro compacto Côco Verde e Ana Juan. A veia rocker de Raul com as influências brazucas e contestadoras de Sérgio rendeu um disco antológico em 71: o transgressor LP “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez. Era o tempo dos festivais e em 72 Sérgio Sampaio deu o passo definitivo na sua vida com a marcha-rancho Eu Que é Botar Meu Bloco na Rua, que por sinal não venceu a disputa.

O mesmo artista que passou fome, de repente se viu com uma bolada, oriunda da venda de 500 mil cópias. Mas foi com essa mesma grana que se afundou de vez. Bebia e cheirava numa velocidade que até o parceiro Raul Seixas se impressionava. O próprio disse que perto de Sampaio se sentia a mais careta das criaturas. Tinha uns rompantes a la Tim Maia, sumia e não aparecia nos compromissos.


Lançou os LPs Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, em 73 e Tem que Acontecer, em 76. A ultima tentativa de voltar à cena foi em 82, com o disco Sinceramente. “Sampaio teve sua passagem por Brasília, quando se apaixonou pela cidade e chegou a compor uma música em homenagem a cidade”. Alcoólatra e tuberculoso, foi pra Bahia tentar colocar a vida nos eixos. Em 94 a pancreatite o tirou de cena de vez. (Dossiê Sérgio Sampaio/Rádio Pelo Mundo).
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Sobre os músicos que prestam a homenagem:

Eduardo Rangel - Ano passado a Globo Sat/Canal Brasil selecionou o trabalho de Eduardo Rangel para representar Brasília no programa “Destino Brasil Música - um outro som”, que apresenta os artistas em evidência de doze capitais brasileiras. Cantor e compositor, Rangel tem dois CDs gravados: Pirata de Mim, gravado ao vivo no “Mistura Fina”, no Rio de Janeiro; e Eduardo Rangel & Orquestra Filarmônica de Brasília, gravado ao vivo na “Sala Villa Lobos do Teatro Nacional”, em Brasília. Rangel tem composições gravadas por Edson Cordeiro, Renata Arruda, Antenor Bogea, Célia Rabelo, Marcio Faraco, Indiana Nomma, Célia Porto e Suzana Maris entre outros.

Maestro Joaquim França - Arranjador e regente do CD “Eduardo Rangel & Orquestra Filarmônica de Brasília”, Joaquim França foi Maestro Assistente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional em 2005 e 2006, e esteve à frente da Orquestra Filarmônica de Brasília entre 1993 e 2007. O Maestro já regeu acompanhando nomes como Francis Hime, Edson Cordeiro, Xangai, Elomar, Rosa Passos e a grande diva do canto lírico brasileiro, Niza Tank. Figurou entre os cinco melhores arranjadores do Concurso Nacional de Arranjos da Secretaria de Cultura de SP e gravou para CD e TV a trilha sonora do filme “Quando Fui Morto Em Cuba” regendo a Orquestra Sinfônica de MG. É pianista, compositor, bacharel em regência e licenciado em Música pela UNB.

Produção - Eduardo Rangel
E-mail: contato@eduardorangel.com.br
Site: www.eduardorangel.com.br

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