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domingo, 31 de maio de 2009

O DIA EM QUE O MARABAIXO PEDIU RESPEITO AO PADRE

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O dia de hoje foi marcado no bairro do Laguinho como o dia em que o povo não deixou que um padre mudasse a história tradicional. Há mais de 100 anos a tradição do marabaixo louva o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade, mesmos santos da Igreja católica, com homenagens que incluem marabaixo, ladainha, bailes, levantação dos mastros e louvor dentro da Igreja junto com a tradicional missa. Uma convivência respeitosa dos líderes católicos com os participantes do marabaixo. Desde o ano passado este ritual está sendo alvo de preconceito por parte do padre Geovani Pantarolo, da Igreja São Benedito, a única católica do bairro.
Numa atitude que demonstra claramente a ignorância cultural e total falta de conhecimento do padre com a história do Amapá, os participantes do marabaixo foram mais uma vez desrespeitados pelo padre que quis mudar a tradição e deixar a imagem do Divino Espírito Santo longe do altar, em um canto escondido atrás de uma coluna. A atitude preconceituosa também foi tomada em 2008 quando o padre dedicou seu sermão para dizer que marabaixo é coisa do demônio e quem participa não vive na plenitude de Deus.

A ação do padre provocou uma reação do povo do Laguinho. Na noite de hoje após seguirem o rito de pegar a murta, os participantes cantando ladrões, tocando caixas e dançando, entraram na Igreja na hora da missa deixando os presentes sem entender o que estava acontecendo. O padre causador do transtorno não estava presente. Danniela Ramos, bisneta de Mestre Julião Ramos e presidente da Associação Raimundo Ladislau pediu desculpas pela interrupção, pegou o microfone que foi desligado a manado de um líder da Igreja. Usando a voz acostumada a entoar ladrões durante horas, Danniela falou em nome do povo tradicional do Laguinho e foi escutada mesmo sem microfone.

Sob olhares reprovadores dos coordenadores da missa, que chegaram a ameaçar chamar a polícia, Danniela falou entre outras coisas, que não vamos deixar um padre mudar nossa história e que o padre precisa conhecer nossas tradições pra julgar. “O padre não pode dizer que o marabaixo é coisa do demônio se não conhece os festejos, estamos aqui em protesto a esta atitude preconceituosa, não viemos atrapalhar a missa, mas pedir respeito ao nosso povo, ele quer acabar com nossa história e um povo sem história não existe, e nós existimos”, disse Danniela.

Não é a primeira vez que a cultura do marabaixo é desrespeitada por pessoas que ignoram a tradição amapaense. Um juiz na década de 80 quis impedir os festejos na casa do finado Mestre Pavão por estar perturbando seu sono. Teve que ir embora do Amapá após muitas manifestações. Para construir a UNA os negros tiveram que se armar para enfrentar assessores do prefeito e garantir que o espaço fosse construído. Danniela Ramos vai procurar amanhã mais uma vez o Bispo Dom Pedro pra relatar o acontecimento.
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Texto: MARILÉIA MACIEL

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